Entrevista Malefactor

Entrevista Malefactor

E lá se foram 25 anos… Quem acompanha a cena Metal da Bahia nem percebeu passar. E uma das bandas mais emblemáticas do Underground baiano completa este tempo de vida. Emblemática, pela atuação, pelo amor ao que faz… Importante não só porque não desistiu, mas também pela coragem constante de se reinventar. Agora, em 2017, sai o sexto álbum da banda, intitulado “Sixth Legion”. Como o próprio Lord Vlad, líder fundador da banda diz, um “retorno às raízes”.

Com formação nova, músicas rápidas, som mais cru e direto, “Sixth Legion” chega para ser um dos melhores lançamentos nacionais de 2017. Sobre tudo isso, o Bahia Rock conversa com os três integrantes remanescentes da banda: Lord Vlad (baixo e vozes), Jafet Amoedo (guitarras) e Danilo Coimbra (guitarras) para sabermos sobre este lançamento, novos passos e as novas conquistas na “guerra” travada pela Malefactor há 25 anos. Confira!

A Malefactor, após inúmeros anos, mudou mais uma vez a formação. Isso gerou algum impacto para banda?

Lord Vlad: Antes de responder, agradecer pelo convite e dar os parabéns pelo retorno de vocês. A cena baiana agradece. Qualquer mudança traz impactos e, no nosso caso, foi uma grande mudança. Metade da banda foi embora, por motivos/justificativas diferentes, mas, no meu entendimento, ficaram os que ainda estão a fim de viver na estrada, com todo respeito a meus irmãos ex-membros. Agora, tudo está mais rápido e isso se refletiu nas composições. Precisávamos provar a nós mesmos que íamos fazer nosso melhor álbum. A repercussão ainda está muito nova, ainda nem saiu nas revistas e zines. Mas os “maníacos” têm procurado bastante e, em breve, estará nas plataformas digitais e poderemos ter ideia do quanto ele foi aprovado. Eu mesmo não paro de escutar. E isso é bem difícil da minha parte. Geralmente levo meses sem ouvir depois do processo todo de mixagem e masterização.

A quantidade de integrantes menor afetou em que medida o método de composição de vocês?

Lord Vlad: Sim, claro. Agora as decisões são tomadas muito rápidas. Antes eram 6 músicos. Um riff, às vezes, era muito discutido, uma letra, uma roupa de show, por horas, semanas… Agora, levam dois minutos, no máximo. E nossa decisão foi de que este seria o disco mais cru e agressivo, sem perder nossa identidade. Conseguimos, com certeza. Tem de volta aquele cheiro de juventude e guerra do “Celebrate Thy War” (agora com uma produção foda), da demo-tapes e toda a velocidade do início da banda, mas sempre mantendo a atmosfera épica e Heavy/Black metal que é nossa assinatura.

São 25 anos de banda… Qual sua leitura do momento atual da banda?

Lord Vlad: Nunca fomos tão bons ao vivo. Nem em estúdio. Esta é minha leitura. Basta ver os convites que estamos recebendo em comparação há poucos anos. Eu não tinha mais tesão em estar no Malefactor. Os ensaios tornaram-se raros, os shows também, as músicas novas sendo feitas em computadores porque não conseguíamos mais nos reunir, pois sempre as prioridades eram outras. Agora inverteu tudo. Todos trabalhando todo dia de alguma forma. Seja com a divulgação, com marcação de shows, com gravações de vídeo. Estamos focados para levar nosso nome a outro patamar. Reconquistar o que tínhamos há dez anos e perdemos, e ir muito mais além. Estamos com um disco diabólico em mãos e queremos fazê-lo chegar o mais longe possível dentro da verdadeira cena underground.

O “Sixth Legion”, novo trabalho da Malefactor, é um disco menos melódico, mais agressivo, porém mantém os elementos épicos da banda. Foi um processo natural essa “reinvenção”?

Lord Vlad: Sim! E isso, de certa forma, também gerou nossa ruptura com os ex-membros. Alguns não queriam voltar às origens, outros não queriam mais tocar tão rápido. Eu queria voltar para a atmosfera da época das demos, onde éramos uma banda de Death Metal muito original no que se refere à cena brasileira de 1993/94. E percebi pelas composições que o caminho estava sendo este. Danilo, Jafet e eu sempre fomos os compositores de 90% das músicas, os outros entravam mais com ideias nos arranjos. Todo o disco da Malefactor tem músicas minhas, mas como sempre assinamos como composições da banda, muitos pensam que eu só fazia as letras. Um ex-membro uma vez disse: “Vocês querem reconquistar um público que não nos quer mais”. Ele está errado, queríamos reconquistar a nós mesmos. Eu nunca deixei de ser, de certa forma, aquele adolescente Death Metal, e queria poder tocar TUDO que quiser na banda que eu fundei. Foda-se quem não nos ouve mais por motivos que nem quero saber. Este disco foi feito por e para nós três: Lord Vlad, Danilo e Jafet. Demoramos para perceber isso. Este disco não seria assim se fosse feito de outra forma. Agradeceremos sempre a imensa ajuda de Thiago Nogueira! Pra mim, um dos melhores bateristas de metal de todos os tempos. (Nota do Entrevistador: Thiago Nogueira, produtor e baterista, foi músico de estúdio contratado para executar a bateria em Sixth Legion). Basta ouvir o “Sixth Legion” e ver se estou exagerando.

Você sempre se dedicou aos vocais. Mas agora também toca o baixo… Como tem sido está adaptação?

Lord Vlad: Durante os dois primeiros anos de banda, eu tocava guitarra e vocal. Mas nunca fui egoísta, e sempre achei que a banda merecia um guitarrista melhor, além de eu poder me dedicar mais as vozes. A adaptação foi rápida, pois eu sempre toquei em casa. Até amigos próximos não sabiam disso e um cara falou: “você realmente tem pacto com Satã, ninguém aprende a tocar baixo em dois meses e sai tocando e cantando assim, sem a banda cair de nível”. Eu podia ganhar esta história pro saco das lendas, mas prefiro ser honesto: eu sempre toquei (risos). A dificuldade maior foi a adaptação aos palcos. Ainda quero me tornar um baixista melhor, e evoluir ao vivo na postura de como interagir com o público. Mas não somos metal de plástico nem prog metal; então, não foi também nenhum bicho de sete cabeças. Nosso produtor, Vicente, não acreditou quando fui gravar o baixo do disco novo. Até aquele momento acho que até os caras estavam meio receosos. Mas eu não faria algo se não tivesse certeza que estaria 100% quando fosse a hora. Basta ouvir o disco. Está com o timbre, volume e execução que eu pedi ao produtor. Meu baixo tem som de morte. Sujo e com o brilho que eu queria muito. Estou muito satisfeito e tenho certeza que meus irmãos também.

O trabalho de guitarras, provavelmente, foi o mais impactante da banda… Nos falem sobre esse processo de composição?

Jafet Amoedo: A composição seguiu a mesma linha dos outros álbuns da banda. A gente faz um esqueleto da música e um mostra para o outro, que completa com algumas ideias. O que mudou nesse registro é que nos sentimos mais livres em algumas músicas, já que, quando soubemos que Thiago ia gravar, houve, pelo menos para mim, uma descarga de motivação e acabei que eu fiz uma música com ele praticamente no estúdio, gravando as outras! Quando mostrei a ele, ele curtiu a ideia e falou, gostei dela, manda mais (risos). Com relação ao som gravado, foi a primeira vez que a banda gravou quatro guitarras, sendo duas de cada lado. Foi trabalhoso, pois tivemos de gravar a mesma música quatro vezes! Mas o resultado valeu a pena. E o trabalho de Vicente, na produção dessas guitarras, foi a melhor que já tivemos!

Danilo Coimbra: A maioria das músicas já estavam compostas desde o ano passado por mim. Jafet e Vlad estavam também com uma música cada. Mas com a saída de Alexandre, baterista, da banda, ficamos de encaixar no disco mais duas músicas feitas por mim e Jafet. No processo de arranjos, eu, Vlad e Jafet estivemos muito juntos, tentando encaixar os arranjos das vozes que Vlad já havia compostos em algumas faixas. Como a banda já tem 25 anos juntos fica fácil trabalhar junto, pois cada um já entende o que o outro está pensando. Mesmo assim, a Malefactor sempre prioriza as partes dos arranjos, para podermos trabalhar juntos, pois é aí que acrescentamos a personalidade de cada um. É assim que estas misturas se transformam em música!

“Sixth Legion” é o trabalho mais maduro da banda? Fale-nos do seu processo de composição neste álbum.

Lord Vlad: 50% da estrutura deste álbum foi composto em casa por Danilo, que já chegava com os arranjos de guitarra e bateria prontos e gravados na pré-produção. Hoje, isso é possível e a tecnologia nos ajudou muito. Eu e Jafet compusemos a outra metade do disco, além do cover do Horrified da Grécia, que, acredito, irá deixar nossos irmãos helênicos orgulhosos.

Você é um conhecido defensor do Metal Nacional, contribuindo para cenas e para os eventos que priorizam as bandas locais. Como vê a cena do Brasil hoje?

Lord Vlad: Muito ruim de público. Ótimas bandas, demos, zines e discos. Produções honestas. Mas o público prefere ficar em casa vendo shows pela internet e indo dormir cedo. Eu adoro viajar para shows pelo país, ver o que está acontecendo por aí. Olha pra cena carioca: quantas bandas foda, hein ? Olha pra cena da Bahia…. Todo ano aparecem bandas que já chegam de voadora no pescoço. Mas a cena está dormente, com um ou outro produtor maluco como eu que arrisca perder o que nem tem, e ainda fica ouvindo reclamação de banger bunda suja. Quase todo mundo tem ou teve banda no metal. Mas 80% só vai pros shows das suas próprias bandas. Semana passada mesmo a casa de show disse que não ia colocar amplificadores melhores porque as bandas não tem publico. Lotamos a casa, tudo foi massa. Mas até a gente fica naquela dúvida se as coisas estão melhorando. Nossa parte, claro, estamos fazendo. Ninguém vê um show nosso mais ou menos. O produtor sabe que iremos chegar lá e apresentar um show ainda melhor que o disco. Basta o público apoiar que as coisas melhoram.

O que as bandas devem fazer para se manter tanto tempo na ativa como a Malefactor?

Lord Vlad: Beberem muito, muito mesmo. Sempre desconfio de banda que ninguém bebe e não usa camisas de outras bandas nacionais. Tem uns cu de burro aí que nego paga maior pau, mas nunca usa camisa de outras bandas. Pensam que metal é olimpíadas. Nunca deixarem de se dedicar e acreditar em seus ideais. Não se preocupar com fofoca, isso só atrasa o lado da banda e da cena. Nunca perder tempo com pessoas medíocres que nunca serão ninguém além de sombras das nossas conquistas. Trabalhe certo que as coisas acontecem. Frequente sua cena local e outras. No mais, não fique sonhando em ser o Slayer, você nunca será, eles já existem. Mas não se satisfaça em ser só mais uma. Nunca. São os conselhos do Tio Vlad para os novos satanistas do pedaço (risos).

O mercado tem produzido boas novas bandas? O que tem ouvido que vale a pena mencionar?

Lord Vlad: O mercado nos abandonou. A cena underground tem vomitado ótimas bandas. Eu ouço novas e velhas bandas. Não dá para acompanhar tudo, é muita coisa sendo lançada toda hora. Os discos que mais ouvi em setembro de 2017 (tem discos de várias épocas) foram:

Brasil:

Malefactor – Sixth Legion
Reffugo – Christ Agony
Miasthenia – Antípodas
Sodamned – Songs for All and None
Escarnium – Interitus
Witching Altar – Ride with the Devil
Necro – Adiante
Rottenbroth – Visions of Autopsy
Agnideva – Kaliseva
Lord Blasphemate – Lucifer Prometheus

Overseas:

Katavasia – Daemonic Offering
Varathron – Untrodden Corridors of Hades
Primordial – Where Greater Men Have Fallen
Dark Tranquility – Yesterworlds (Demo tape era)
Septic Flesh – Codex Omega
Enslaved – In Times
Ejecutor – Ejecutor
Satyricon – Live at the Opera
Gruesome – Dimensions of Horror
Immolation – Atonement

Obrigado pela entrevista! Por favor, deixe uma mensagem aos fãs de metal e do Bahia Rock!

Lord Vlad: Muito obrigado pela oportunidade. Quero convidar aos metalheads para uma audição do “Sixth Legion”. Está uma obra fudida e verdadeira! Enxofre, Aço, Sangue, Magia e Metal feito para bater cabeça em alto volume. Ano que vem sai o documentário: “MALEFACTOR – 25 anos sob a lei da espada”. inclusive, aproveitando o espaço, gostaria de, em primeira mão, anunciar a entrada de Daniel Falcão como baterista efetivo da banda. Ele também é o baterista das bandas Headhunter DC, Insaintfication e Vermis Mortem.

 

Lucas Rocha

Lucas Rocha

Editor e Redator-Chefe.

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