História Do Rock Baiano – O Ser Opaco

História Do Rock Baiano – O Ser Opaco

Lá pelos idos de 1993, entre as noitadas regadas a muito rock n’ roll, vinho de qualidade duvidosa e frenéticos acordes de violão pelas ruas do bairro de Mussurunga, em Salvador, se formou uma das bandas mais emblemáticas do cenário do rock soteropolitano, com o misterioso e sugestivo nome O SER OPACO.

Tudo começou com um grupo de jovens que se reunia para matar o tédio inventando música de todo tipo. Em épocas onde internet era coisa de gente rica, esse grupo realizava sessões na casa de um e de outro para ouvir fitas K7 e discos de vinil, de bandas que variavam desde Napalm Death, Morbid Angel, Ramones e Dead Kennedys a Pearl Jam, Judas Priest e Iron Maiden, passando por Legião Urbana e outros ícones do rock nacional. Em paralelo aos ensaios da banda de grindcore da galera, a Premature Mongo, foi se formando outra banda entre os membros do grupo, que deu origem ao O SER OPACO.

Feijão (Vocal, guitarra)

Apesar de apresentar uma linha sonora mais próxima do psicodélico oitentista e do movimento grunge de Seattle (cujas bandas estavam estourando na época), O SER OPACO expressava o ecletismo do gosto musical de seus membros, que diziam querer fazer um som psicodélico, mas como rompantes de heavy metal e pitadas regionais. Desta forma, diziam que suas influências variavam de Pearl Jam, Dead Can Dance, Joy Division, The Cure, The Smiths e Type O Negative a Elomar, Xangai e Geraldo Azevedo.

Com essa proposta a banda iniciou suas atividades quando Erick Correia (voz, guitarra, violão e flauta doce), mais conhecido como Feijão, apresentou à galera algumas músicas que tinha composto no violão e que tiveram uma repercussão positiva do pessoal que já fazia barulho junto. Daí para formação da banda foi algo imediato, havendo entre os amigos inúmeros músicos que passaram pelo grupo. Se incorporaram então à banda Rafael Santiago (ex-Glorious, A Curva) no contrabaixo, Mário Sérgio na bateria e Primo Zé na guitarra solo. Ao longo do tempo passaram pela banda Patrícia na flauta transversal e flauta doce, Deo e Fábio nos teclados, além de Márcio na bateria e Nildo no contrabaixo.

Rafael Santiago (Contrabaixo)

O grupo ensaiava em estúdios no próprio bairro de Mussurunga, mas também no Bonfim e no estúdio de Irmão Carlos, no Marback. Logo começaram a aparecer os shows e a banda formou rapidamente um grande público. Um dos primeiros shows foi em 1995, no espaço cultural do Conselho de Moradores de Mussurunga 1, mesmo local que chegou a abrigar shows de bandas como Malefactor, Obliteration e Injúria no início de carreira, nos festivais Brutal Noise I e II.

No ano seguinte O SER OPACO participou do Festival de Arte e Cultura em Defesa da Educação, na Escola de Belas Artes da UFBA (Canela) e em 1997 fizeram um grande show no Encontro Nacional dos Estudantes de Arte, realizado na UCSAL (Federação). Ao longo de 1998 a banda fez vários shows bem concorridos em bares e espaços culturais no centro histórico do Pelourinho e no Politeama.

Primo Zé (Guitarra Solo)

Em 1999 foi a vez da banda fazer uma importante apresentação abrindo o show da já famosa banda de heavy metal paulista ANGRA, evento realizado no espaço cultural Pelourinho de Nazaré. Nesse show a banda teve no palco a participação de uma violoncelista, um sonho antigo de Feijão, que ambicionava a incorporação de mais instrumentos acústicos nas performances ao vivo. Muitos headbangers menos radicais, que ainda não conheciam O SER OPACO, ficaram admirados com a sonoridade da banda, que não era muito comum em terras baianas naquele período.

Mas foi no ano 2000 que O SER OPACO teve seu maior público, quando se apresentou no Palco do Rock, na praia de Piatã, tendo uma enorme receptividade da plateia. A essa altura a banda demonstrava amadurecimento musical e já tinha um grande número de fãs que a acompanhava e cantava junto as suas músicas próprias, como a balada “Face”, as agitadas “Never” e “Fight” e as pesadas e psicodélicas “The Line”, “Sandman” e “Tomorrow”. Pra delírio da galera, a banda ainda tocou os covers “Christian Woman”, do Type O Negative, e “Daughter”, do Pearl Jam, levantando areia na praia de Piatã.

Deo (Teclados)

A última apresentação do O SER OPACO aconteceu no mesmo ano 2000, num bar em Itapuã, ao lado da Primitivus Roots e da The Sheriff. Algum tempo depois a banda, inexplicavelmente, encerrou suas atividades sem gravar sequer uma demo ou cd. Não são conhecidos também registros em vídeo das apresentações e, segundo alguns ex-membros, restaram apenas algumas gravações de ensaios em fitas K7 durante os sete anos de existência da banda.

Essa história de O SER OPACO é mais uma prova da vitalidade do rock baiano, que conseguia combinar influências internacionais, nacionais e regionais em um repertório altamente denso e criativo, mas também é o registro de como as dificuldades financeiras e de estrutura técnica por vezes fazem com que se percam no tempo tantas obras genais. De toda sorte, fica a esperança no coração dos antigos fãs e testemunhas desse grande trabalho de que algum reencontro dos antigos membros ocorra e, pelo menos, possa vir à tona em registro fonográfico aquelas canções que embalaram muitas noitadas soteropolitanas.

Mário Sérgio (Bateria)
Grigorio Rocha

Grigorio Rocha

Professor de Sociologia, poeta e artista plástico.

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